segunda-feira, 20 de agosto de 2012

FOLHETO DA MISSA DE CASAMENTO – MARLENE E DAÓLIO


- Música de Abertura: CAMINHOS (ver anexo)
RITO INICIAL – CONVITE PARA A REUNIÃO
DIRIGENTE: A missa é uma reunião de cristãos. É um ponto de parada, e um ponto de partida. Paramos com nossa correria diária para tomar um fôlego para a próxima partida. O que viemos fazer aqui?
HOMENS: -         Teu povo se reuniu, Senhor,
                     Para louvar teu nome santo,
                     E viver na tua paz.
MULHERES: -     Teu povo se reuniu, Senhor,
                     Para ouvir a tua voz,
                     E lembrar o teu amor.
TODOS:-       E o mundo saberá
                     Que somos povo de paz,
                     Povo de Senhor.
DIRIGENTE: Viemos celebrar o amor. Um grande amor. Aquele que Jesus tem por nós: “Não há maior amor do que o amor daquele que dá a vida por seus amigos”. Cada missa é uma esperança que renasce. Ela sempre acende uma luz na estrada da vida. O amor, isto é, Deus, é sempre uma esperança, esperança que falta tanto hoje em dia.
HOMENS: -         “Pelas ruas, o que se vê?
                     É uma gente que nem se vê,
                     Que nem se sorri,
MULHERES: -     que nem se beija,
                     Que nem se abraça,
                     Nem sai caminhando,
                     Dançando e cantando
                     Cantigas de amor.
TODOS: -             E, no entanto, é preciso cantar,
                     Mais que nunca é preciso cantar...
                     E alegrar a cidade! ...
                     Todos vão sorrir! ...
                     Voltou a esperança...
                     Porque são tantas as coisas azuis,
                     Há tão grandes promessas de luz,
                     Tanto amor para amar
                     Que a gente nem sabe.”
                     (Vinicius – Marcha de 4ª feira de Cinzas)
DIRIGENTE: Porém, o amor não é só esperança. É um desafio constante. Pede e obriga que nós nos encaminhemos em direção aos outros. Ele desafia o comodismo. Os acomodados nunca deveriam se chamar de cristãos. É como diz o poeta: “Quem de dentro de si não sai vai viver sem amar ninguém”. Ou então: “O meu amor, sozinho, é como um jardim sem flor... não há amor sozinho, é juntinho que ele fica bom”. Cantaremos uma canção que é um desafio para nós.
- Música: BALADA DA CARIDADE
DIRIGENTE: Podemos nos sentar. Os noivos irão apresentar seus parentes à comunidade local.
(APRESENTAÇÃO)
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LITURGIA DA PALAVRA – TEMPO DE MEDITAR
DIRIGENTE: Agora, vamos tomar fôlego. Tentemos rever o caminho feito até agora. Nossas experiências, nossas ideias, enfim, nossa vida. Será que teremos de mudar alguma coisa? A liturgia da palavra é para isto, ouvir o que Deus tem para nos dizer que sirva para uma revisão de vida. As mensagens que ouviremos foram escolhidas pelos noivos. Eles querem dizer que acreditam e tentam viver essas mensagens. Vamos ouvir e meditar. Duas pessoas irão apresentar os pensamentos a serem pensados.
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EM LUGAR DAS LEITURAS HABITUAIS
E DO SERMÃO DO PADRE,
OS NOIVOS EXPUSERAM SUAS CRENÇAS
POR MEIO DE TRECHOS EXTRAÍDOS DE VÁRIAS FONTES
E LIDOS EM FORMA DE JOGRAL
VERIFICAR APÓS OS TEXTOS DA MISSA
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O OFERTÓRIO – A HORA DAS PROMESSAS
DIRIGENTE: A vida é cheia de tentativas. E é toda ela um risco. As tentativas são as promessas que fazemos, que poderão ser cumpridas ou não. É tentar, cair, recomeçar, cair de novo, etc. Como diz a música: “Levanta, sacode a poeira e dá volta por cima”. O Ofertório da missa é uma renovação de antigas promessas. Tivemos quedas e precisamos recomeçar. É nesse momento também que os noivos se prometem amor, diante do povo cristão.
(Podemos ficar sentados. Neste ponto, os noivos comandam a celebração)
- Os noivos convidam os padrinhos para que venham à frente. (Foram convidados nessa hora, nenhum deles sabia de antemão)
- O noivo apresenta um pequeno histórico. (do namoro até o casamento)
- Os noivos se prometem o amor.
- O Sacerdote confirma a promessa feita.
DIRIGENTE: Os noivos se prometeram amor, isto é, se casaram. Agora é a vez de todos nós. O amor é o primeiro mandamento. Disse Deus: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo coração ... e ao próximo com a ti mesmo”. No Batismo, concordamos com isso. Agora, no ofertório, ratificamos nossa promessa de amor. Diremos através de uma música cuja letra é bastante conhecida de todos e que é um verdadeiro roteiro para o cristão. Todos de pé.
- música: ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO
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RITO EUCARÍSTICO – A REALIZAÇÃO DE UMA PROMESSA
DIRIGENTE: Agora o sacerdote vai comandar. Esta é a parte central desta celebração. É o rito eucarístico. O sacerdote toma o lugar de Cristo e reproduz a Última Ceia de Jesus com seus discípulos. Esta ceia, chamada por nós de MISSA, é o sinal do amor realizado de Cristo. É o sinal da realização de Sua promessa de amor. Se antes dissemos que estávamos fazendo promessas, que poderiam ou não ser cumpridas, agora a coisa muda. Jesus prometeu e cumpriu: morreu por nós. E a missa é o sinal desta morte, é o sinal do amor de Cristo. A missa é uma promessa de amor que foi cumprida.
(O SACERDOTE TEM A PALAVRA)
(O SACERDOTE REALIZA O RITO EUCARÍSTICO)
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A COMUNHÃO – UNIÃO EM TORNO DA PROMESSA
DIRIGENTE: Cristo cumpriu o prometido. Nós devemos também cumprir. Mas, há tanto o que fazer...
HOMENS:- Há tanto desamor...
MULHERES:- Há tantas injustiças...
HOMENS:- Há tantos preconceitos...
MULHERES:- Há tanta liberdade a ser conquistada...
HOMENS:- Tantos ódios, intrigas, orgulhos, vaidades, invejas...
MULHERES:- Tanto desprezo, maldade, religiões que desunem...
TODOS:- Que precisamos nos unir na luta constante, precisamos comungar com as pessoas, no amor. Convocamos as pessoas...
HOMENS:- De boa vontade...
MULHERES:- De mente e coração abertos...
TODOS:- Para que marchem conosco na procura da luz, dos dias azuis.
DIRIGENTE: Por isso, e para isso, precisamos contar com Deus...
- música: DIA E NOITE
DIRIGENTE: Nesse esforço de comunhão, de união, costumamos tomar a comunhão, tomar a hóstia, que é o sinal do amor que Cristo tem por nós. Para nos preparar, vamos nos dar as mãos e rezar o Pai Nosso.
TODOS:- Pai Nosso...
DIRIGENTE: Que venham comungar todos os que querem se unir em torno da promessa de amor que fizeram em torno da promessa de Cristo, em torno da Eucaristia. Quem vai comungar venha até a frente. Podemos nos sentar durante a comunhão. Durante a mesma, o dirigente do coro vai comandar músicas, que nos indicará.
- músicas
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A MISSA TERMINOU – A PARTIDA DOS IRMÃOS
- Despedida dos noivos
- Despedida do Sacerdote
DIRIGENTE: Dissemos que a missa é um ponto de partida. Daqui partimos para o mundo, onde vivemos. Daqui levamos novo alento para continuar a caminhada. O negócio é partir sempre, sem desanimar, mesmo sabendo que a vida é um barco que pode afundar. Essa ideia de partida contínua é o que queremos significar com a música que irá fechar esta reunião.
- música: SUITE DOS PESCADORES (Dorival Caymi)

JOGRAL

J1.    Uma lenda oriental diz: Antigamente, a verdade era uma grande bola no céu. Um dia ela caiu e se despedaçou em mil pedaços, que estão espalhados por todos os lados.
J2.     Grande sábio é aquele que sabe o quanto não sabe.
J1.     A primeira frase de um poema inglês: “Homem algum é uma ilha”.
J2.     De Thomas Merton: “Só o amor dado é amor guardado”.
J1.     De Saint Exupery: “Você é responsável por quem você cativou”.
J2.     E disse também: “O essencial é invisível aos olhos”.
J1.     Sacada de Vinicius de Moraes, em Samba da Benção: “A vida não é brincadeira, amigo, a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.
J2.     Jesus disse: “Quem quer ganhar a sua vida, perdê-la-á”.
J1.     Esta música de Jobim e Milton Mendonça vale uma meditação:
          “Quem acreditou no amor, no sorriso e na flor,
           Então sonhou, sonhou, e perdeu a paz.
           O amor, o sorriso e a flor se transformam depressa demais.
           Quem abrigou no coração a tristeza de ver tudo isso se perder,
           E, na solidão, procurou um caminho e seguiu já descrente de um dia feliz,
           Quem chorou, chorou, e tanto que seu pranto já secou,
           Quem depois voltou ao amor, ao sorriso e à flor, então tudo encontrou,
           Pois a própria dor revelou o caminho do amor, e a tristeza acabou”.
J2.     A melhor escola é a experiência pois a vida não se encaixa em nenhuma escola. É o que querem dizer Vadico e Noel Rosa em Feitio de Oração: “Batuque é um privilégio, ninguém aprende samba num colégio. Sambar é chorar de alegria, é sorrir de nostalgia dentro da melodia”. Taí, viver é chorar e sorrir dentro da melodia.
J1.      Disse Jesus: “Eu vim para que tenham a vida, e a tenham em abundância”.
J2.    Querer a verdadeira vida é o primeiro passo para mudar de vida. Os outros podem ajudar ou atrapalhar, mas o próprio Deus nos deixou com autonomia para viver. Depende de nós. Aliás, a melhor mudança de vida é aquela que vem lá de dentro de nós próprios.
J1.      Uma mistura de Vandré, Gil e Cristo:
           “Vem, vamos embora que esperar não é saber,
           Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
           “Só espera sentado quem se acha conformado”.
           “Quem pega no arado e olha para trás não é digno de mim”.
J2.     Porém, nem sempre é aconselhável a pressa. Não podemos querer engolir a vida de um fôlego só. É só ler o livro da Sabedoria, da Bíblia, de onde foi tirada a letra da música que vamos cantar agora.
- música: TEMPO E CONTRATEMPO
J1.     Alguém disse: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. Outro disse:  “A razão tem emoções que o próprio coração não sente”. Por isso, a gente só conhece, de verdade, com o coração.
J2.     É o que Cristo disse: “Quem tem olhos para ver, que veja”.
J1.   Para aqueles que nos olham com maus olhos, e armam ciladas e intrigas a nosso respeito, vamos lembrar uma gozação de um salmo da Bíblia: “Um fulano abriu um buraco e o aprofundou, mas caiu no buraco que fez”.
J2.   Alguém que morreu pregado na cruz disse: “Eu venci o mundo”. Portanto, para o cristão, a luta já tem vencedor.
J1.    “Quem é homem de bem não trai o amor que lhe quer seu bem.
          Quem diz muito que vai não vai, e, assim como não vai, não vem.
          Quem de dentro de si não sai vai viver sem amar ninguém.
          O dinheiro de quem não dá é o trabalho de quem não tem.
          Capoeira que é bom não cai e, se um dia ele cai, cai bem”.
          (música Berimbau, Vinicius e Baden)
J2.   Se você não ama seu namorado, diga logo: “Talvez o meu caminho seja triste para você”. Eu não te amo. Porque, se não, a decepção vai ser muito grande. Porque “o amor é a coisa mais triste quando se desfaz”. (Amor em paz, Vinicius e Jobim)
J1.   Não há gente perfeita ou coisa perfeita neste mundo. Toda moeda tem duas faces. Todos nós temos um cantinho escuro, bem lá dentro. Até o sol, a melhor luz que conhecemos, tem manchas. Como diz a música:
          “Eu sou nuvem passageira que com o vento se vai.
          Eu sou como um cristal bonito que se quebra quando cai...
          Sou um castelo de areia à beira do mar...”
J2.   Em geral, queremos alcançar a verdadeira vida, mas, o que conseguimos é a vida verdadeira.
J1.     Mas Deus sabe o material de que somos feitos, e nos entende.
J2.     Perfeito mesmo é aquele que disse:
          Procuras um caminho? Eu sou o caminho.
          Procuras a verdade? Eu sou a verdade.
          Procuras a vida? Eu sou a vida.
          Deus é meu sol.

domingo, 12 de agosto de 2012

DIÁRIO DO IPIRANGA - 1962/63


1º ANO DE TEOLOGIA – SÃO PAULO - 1962



Dia 22 de março de 1962
My Diary”, segundo dizia aquela famosa música do Neil Sedaka.
São Paulo 4+100+tão, terra da garoa!
Agora o negócio é sério, teologia, etc. Quando tiver tempo falarei com você, meu diário. Serão conversas informais, de amigo para amigo.
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Agora, quando estava fazendo minha leitura espiritual com Michel Quoist, (um dos livros mais badalados à época, orações em forma de poesia), veio-me à lembrança uma aula do Pe. Araújo. Falando-nos sobre liberdade e consagração a Deus, dizia: Se a gente solta um passarinho, não sente remorsos, pois, embora lhe neguemos então comida e água garantida, consolamo-nos por havê-lo posto a solto. Ninguém também haveria de lamentar a sorte do passarinho pelo fato de saber que o alcance de suas asas, por exemplo, não passa de um raio de 50 quilômetros; ninguém diria “Coitado, não pode voar 100 km”. Assim também acontece na consagração a Deus. Saímos da gaiola que nos permitiria umas tantas liberdades e entregamo-nos à liberdade plena... que diferença... “omnis comparatio claudicat unius pedis”. (= Toda comparação manca de uma perna”)
 Estamos prestes a assistir ”Balada do Soldado”. Já assistimos a “Rififi”.
Passei o dia um tanto chateado. Não assisti missa nem comunguei, não estudei, embora tenha feito outras atividades necessárias, não saí a passeio – encerei o quarto – enfim, fiquei meio na baixa!
Dia 30 de março de 1962
Eis aí! Os dispersos crônico ... Realizar é saber concentrar-se. Muitas vezes a gente reclama de falta de tempo. Creio que é falta de decisão. Nestes dias tenho me observado.
Recomecei este trabalho de C.C. (Cineclube e Cineforum). Mas quanto tempo perdi e em quantos sonhos me perdi! Caramba! Não sei, cheguei, às vezes, a abrir todos os livros e cadernos... e ficar olhando para algum ponto que não existia, ou pegava um assunto qualquer... quando acordava uns 20 minutos já tinham ido! ...
É o Dalle Carnegie (autor de um grande Best-seller à época de onde copiei – mesmo – alguns desenhos que aparecem na publicação sobre Cineclube): Fechar em compartimentos hermeticamente fechados, ou, se quiser, “age quod agis”. (= faça bem feito o que estiver fazendo) É dedicar-se profundamente. Não ficar indeciso. Começar logo. Fazer algo. Uma coisa de cada vez. “Quem tudo quer... “
Pe. Vasconcelos é o fino. Gostei muito daquele disco. Pensei em presenteá-lo à Mamãe. Vamos ver. Devo me lembrar que sou estudante, etc.
O basquete hoje saiu formidável! Deo Gratias. Bye, bye!
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Dia 4 de outubro de 1962
Eco ao longo dos meus passos”. Meus passos terão eco? Ou eu sou um sujeito frustrado. Às vezes, o caos me ameaça.
Gozado: crise interna, crise nas minhas relações (no catecismo), crise no Brasil, crise no mundo. Acho que esse descontentamento e sinal de que “só na outra vida é que conseguiremos a felicidade!” Crise e problemas sucessivos. (uau!)
Eu, particularmente: o que progredi? 1° ano de Teologia! Nem o problema da pontualidade no levantar eu consegui. Desse jeito não vai. A espiritualidade tem que partir de alguns pontos concretos. O meu ponto de honra por agora vai ser o levantar, tá?! Pequeno, mas...
E a crise no catecismo? Nossas relações, cortadas. Júlio renunciou. Faur também. E eu? Puxa vida, é preciso fé mesmo aqui no seminário. Será que depois de 10 anos de seminário (ou 14 para o Vicente e o outro) não se aprendeu a fugir de intrigas? ... Peço resistência e ajuda do Senhor. Que coisa! Por que fizeram isso?
E eu, que farei nessas circunstâncias? Renunciar? Continuar sozinho? Interessante que foi nessa ocasião que estava lendo em “O Silêncio de Deus” a parte de Bernanos em que a paixão aparece na vida do homem. O “Padre da Aldeia” (preciso ler o livro) foi um fracasso atrás de fracasso. Entre sua paixão e morte fez bem aos outros. Sta. Terezinha... que atualidade dessa santa ... e agora vem essa paixão e morte do nosso catecismo! Se aqui no seminário acontece isto devo ficar prevenido para o que der e vier mais tarde. Não sei ainda o que fazer. Compromete tudo: o 1° ano, o grupo da diocese (de Campinas), etc. etc. Mons. Ulhoa tinha razão de sobra ontem quando falou sobre a catolicidade no seminário... não se fechar em grupos e igrejinhas. O nosso trabalho foi tomado como fracasso e julgado por gente incompetente. Fazei com que meu ódio diminua Senhor!
E a crise brasileira! Da Igreja e do Estado! As eleições estão aí. Tão dizendo que o JB vai ganhar. (José Bonifácio Coutinho Nogueira, candidato a Governador de São Paulo; perdeu para Ademar de Barros). O plebiscito será em janeiro... e a Igreja? Bem, o Concílio está aí e ... (plebiscito – fomos convidados e escolher entre Parlamentarismo – votar sim e Presidencialismo – votar não; foi realizado no dia 6 de janeiro de 1963, no dia da ordenação do Pe. Nadai; fomos à ordenação e votamos em Americana; podia-se votar em qualquer lugar; o governo, de João Goulart, fez propaganda para a votação “não”, que ganhou estourado; desde a renúncia de Jânio o Brasil tinha experimentado o Parlamentarismo sem grande sucesso e o Jango forçou o plebiscito e derrubou o Parlamentarismo)
Bem, hoje é dia de retiro e é sobre o Concílio. Acho que não tem o que pensar. O jeito é rezar e abrir a vontade para aceitar as deliberações. “Veni Creator Spiritus” (Venha, Espírito Criador)
Chove; o dia está horroroso.
Nota bene: fui ler a 1ª página do meu diário e encontrei referência ao caso do Chasseraux, em Aparecida, com o Júlio... ele já aparecia na 1ª página. Senhor! (que encrenca seria essa?)
Pe. Charbel falou do aspecto: sacerdote – vítima, que o sacerdote deve possuir. (hum!) Todo o cristão também, mas o sacerdote sobretudo. Enfim, é Charles Moeller secundado. Ler fim do livro “O Silêncio de Deus”. É tudo. (agora que lembrei; esse livro faz parte de uma pequena coleção muito bacana escrita por esse padre, ou seja, esse citado, 2° é “A Fé em Jesus Cristo” e 3 ° é “A Esperança Cristã”; esse escritor escolhe alguns autores da atualidade – por exemplo, Graham Greene – e faz uma análise do autor do ponto de vista do título do livro; tenho os 3 livros até hoje)
Dia 6 de outubro de 1962
Vésperas das eleições. Não sei ainda em quem votar ou se “não votar”. Creio que o JB ganha.
Preciso escrever para casa; fica para amanhã. Inclusive pedir dinheiro. Como é chata a nossa situação... nessa base não vai. É um martírio todas as vezes de pedir dinheiro. Que fazer. É o jeito.
Graham Green é grande. (O livro) “Poder e Glória” me fascina!
O trabalho de sociologia vai esperar um pouco até eu falar ao Barizon. Cine-clube ...


Dia 10 de outubro de 1962
Não confessei mesmo. É a crise? Vou mudar de confessor! Que solução!... E a tonsura. Vou pedir ou não.
Viram só. O “promessão” vem aí. Ademar (de Barros) é a solução. O “ratão” está ganhando e creio que vai se manter na posição onde está. E o JB é o 3°... é o máximo. Seria reação contra o “janismo”. Provável. Jânio perdeu muitos votos até na Vila Maria. Diz-se que fez discurso bêbado, completamente... Pe. Saba diz que Jânio é assunto encerrado. Videbimus!... (= “veremos” - meu momento profético... Jânio voltou à Prefeitura de São Paulo anos depois). Prouvera a Deus assim fosse.
E o Concílio está às portas. Rezemos. O mais, não adianta falar. O Espírito vai baixar mesmo. Esperemos.
Aliás, por falar em Concílio, escrevi para casa. Daqui a uns tantos dias escreverei de novo a fim de ... etecétera. Vamos fazer algo ....
Essas 3 balas em cima da mesa – as últimas da presente provisão – representam o desespero grahamgreeniano. É a tábua da salvação... (!) Analogia “proporcionalitatis impropriíssima” (= analogia muito imprópria – brincadeira com expressões dos livros que estudávamos)
Dia 21 de outubro de 1962
Realmente foi a primeira vez (que me lembro). Essas coisas parecem que são vistas de outra maneira quando se leva em consideração uns tantos pontos. No (exame) de Liturgia, por exemplo, não deu tempo de ler o resumo (doença!), e as folhas de D. Vagagini (ou D. Bernardo...) (?) são muito confusas. Acabei colando mesmo! O de Hebraico fiz seriamente.
O Concílio aí está! 5 bispos brasileiros nas comissões: D. Agnelo (Rossi, cardeal de S. Paulo), D. Eugênio (Sales), D. Vicente Scherer, D. Delboux e um prelado apostólico; os italianos são agora em minoria nessas comissões. A que o E. Santo (?!) tem que recorrer! Deus respeita a liberdade humana ... e sabe as consequências de tal ato.
A doença me pôs em alerta. Fiquei trancafiado todos esses dias. Esse São Paulo (frio em outubro!) não deixa doente sair de casa. Estou melhor agora, embora a dor de cabeça parece que ainda não resolveu me abandonar.
E com isto um pouco da vontade de escrever se foi. Mas preciso retomar o trabalho de Cine-clube e Cineforum, etc.
O “snooker” chegou e a turminha dos viciados logo vai se definir. Bateu o sinal para Vésperas...


2º ANO DE TEOLOGIA – SÃO PAULO - 1963



Dia 11 de outubro de 1963
Viu! Quase um ano após. Vamos ver se o negócio pega mesmo. Acabou a aula do Pe. Araújo, que enforquei – ameaça de dor de barriga e outras coisas por fazer, inclusive escrever aqui.
Preciso descer para o almoço. Depois assistirei ao filme dos anõezinhos.
Ontem fiz um retiro bastante mixuruca. Não aproveitei quase nada. Um pouco pelo que me abate: a “Equipe de Vida”, que de vida até agora nada houve. Fiquei chateado na última reunião. Pois tal fulano Urbano (quem seria?) (até mesmo rima...) achou que a Equipe de Dirigentes passou por cima, etc. Mas, santo Deus, coloca-se princípios e se não os cumpre. Confia-se na Equipe de Dirigentes e se não confia. Então eu me reuni, 3 horas, num domingo à tarde, para impor minha idéia, me reuni com os outros do 2° ano para empurrá-los a aceitar o 2° ponto? Depois, se aquele grande grupo de descontentes tivesse desanimado os dirigentes... mas parece que não aconteceu. Parece que só platonicamente havia tal grande grupo.
Por isso existe muita mediocridade no seminário. Aceitamos tudo pela metade. Nós e os superiores. Eles colocam outros princípios dos quais temem as conseqüências. Nós também queremos certas coisas (a equipe) e não queremos. Isto (eu) conversava com o Alfredo (um colega de Sorocaba), na quarta-feira à noite. Será que existem mesmo os tais que não querem nada com nada (Absolute dicto ...) (= absolutamente falando)? (Se a memória não me falha, o Alfredo foi um dos que tomaram a frente para escrever uma carta à Comissão de Bispos com sugestões de mudanças no seminário, carta esta da qual participei e foi a causa principal da minha expulsão. Acharam que fui um dos articuladores da carta, e, na verdade, não fui. Ajudei na redação final).
Mas a minha crise interna (crise?) ainda continua. Preguiça, principalmente. Fr. Zacarias, nosso Diretor Espiritual, acha que devo cortar pela raiz e confessar agora toda semana. Não consegui ainda. É a famosa preguiça, aliada a certa falta de oração, que podemos chamar de tibieza...
Não, o retiro de ontem não pegou nada mesmo. Quem sabe algo da palestra do Roxo. E olha lá!
Estou cansadíssimo de um jogo de basquete que, aliás, está quase impraticável. Poeira + calor = cansaço. Estou entregue. Assim mesmo traduzi algumas coisas para o Zé Ernani (fiz a tradução do francês de um “guia prático” com dicas de atendimento no confessionário; traduzi e faturei uma graninha). Será que estou mesmo precisando de algum descanso? Como?
Dia 14 de outubro de 1963
O pessoal gostou muito daquele filme dos anões de Roterburg (?). Muito bem feito, mesmo. Colorido e “décor” espetaculares. Os meninos trabalham bem. (um colega, alemão da gema, conseguia esses filmes no Consulado Alemão e a gente passava de dia numa sala que era fácil de escurecer, junto ao campo de futebol)
Ontem à noite também passamos o “Cinema Lumière”, (devia ser um filme do consulado da França, talvez) explicado por mim. Os que estavam gostaram. Etc.
O dia 12 passou com cerimônias, disputa escolástica: comunhão, forma da Igreja. O interessante é que no dia anterior havia sido Festa da MATERNIDADE DIVINA DE N. SENHORA... e sem comemoração alguma. Ninguèm se lembrou. Bárbaro! Onde está a teologia mariana? Quiçá seja esta a maior festa da Virgem, quase que a maior honra da Virgem, o mistério central da Mariologia. Vamos ver se o Concílio propõe algo de novo sobre mariologia.
Por falar em Concílio, a missa em língua vernácula foi aprovada mesmo. Como? Não sei. Parece que cada Conferência Nacional vai fazer o “como”... sobre as Conferências Nacionais, o famoso Dom Sigaud está com medo que a mesma lhe venha tirar a autoridade ... mas o fato é que estão estudando bem a autoridade a dar às Conferências Nacionais. (D. Sigaud e D. Mayer eram bispos intimamente ligados ao movimento tradicionalista T.F.P. – Tradição, Família e Propriedade; esse movimento até possuía Fazenda em Amparo e, segundo alguns, havia até treinamento militar nesse local)
Estou ruim para escrever, especialmente agora, durante a aula do Pe. Charbel.
Dia 15 de outubro de 1963
Aula do Scritzky. É o máximo. Ele é poliglota. Fala 2 línguas ao mesmo tempo.
Ontem houve mais uma das famosas “Equipes de Vida”. No começo do estudo da tarde fizemos uma reunião, Faur, Costa, Geraldo e Eu. Desânimo geral em meio a desânimo. As equipes estão por um fio. Nós estamos numa confusão geral. Não sabemos o que ainda subsiste. Falamos de um montão de assuntos. A gente não sabe nem para onde vai. É a idade Moloch. (deus dos fenícios e cananeus). Não sei nem o que escrever aqui pois está tudo “per modum confusioris conceptus” (frase utilizada às vezes para dizer que a coisa estava mesmo confusa; tradução: “na forma de um conceito confuso”) Na equipe, à noite, a turma achou também que assim não vai. Se não vai... então propus à turma estudar o problema e apresentar alguma solução: livre, com quem quiser, etc. Vamos ver como é que vai ficar.
Dia 18 de outubro de 1963
Ontem não escrevi. Não houve aula!
Fui até a Cinedistri (distribuidora de filmes). O seu Antonio disse para mandar uma carta, que depois podíamos escolher uma data... para ver “O Pagador de Promessas”. Quase tudo pifou! O Lísias – rapaz ultra legal – arrumou para nós. Fui falar com o Simas (Mons. Simas, Reitor do Seminário) e ele não gostou da história. Por causa das más notícias que correm sobre o (Seminário) Central. Calúnicas, é claro. (Parece que a última [calúnia !?] conhecida veio por intermédio do Sinibaldi x Bonnuommo) (mau homem?). Mons. Ulhoa também foi da mesma opinião. Eu achei que têm alguma razão. De fato, esse clero é de morte. Imagine só o seminário assistindo a um filme anticlerical. Seria o cúmulo – diria o beatério e boatério. Mas, fica para a próxima vez. Quem sabe no mês que vem!... os chefes da Cinedistri estão com muito boa vontade. Vamos ver o que vai dar. Fazemos votos que...
Depois fui à S. Bento (Mosteiro de São Bento). Queria confessar. Foi a 3ª vez que lá fui, sem me confessar. Porém, consegui fazer algum exame de consciência, o que não o tinha nas vezes anteriores. Gozado como naquele exato momento não tive mais ânimo, nem de continuar o exame de consciência. Desde tal momento! Puxa, e não adiantou mesmo fazer mais esforço pois não deu mesmo. E saí da Igreja. Vamos ver 4ª feira que vem, ou 3ª feira pois 4ª vai haver Hora Santa na (Igreja de) Sta. Efigênia.
Padre Araújo falou, com razão, que precisamos conhecer mais a psicologia feminina. Precisamos dar algum jeito. Ler obras novas. Não sei. Pensar bem.
Dia 2 de outubro de 1963
Aula de DC (Direito Canônico). Perda de tempo legal mas indeliberada. É uma pena.
Temos um azar tremendo! Quando se deixa ir no cinema, ou o filme é abacaxi (“José do Egito”), ou o preço é salgado: $500,00. Muito obrigado! Só mesmo se for “na lábia”.
Por causa dos exames do seminário e 1° ano, tivemos sábado e segunda sem aulas. Muito bom. Estudei para o Bacharelado (“Baccalaurea”). É só o livro do Roxo: “De Verbo Incarnato”, Teologia do Cristo.
Houve eleição domingo. Claro que a maioria votou no Meirelles (candidato a deputado, autor de um livro famoso à época sobre “Reforma Agrária”). É bom sujeito. Os resultados são poucos e não dá para perceber quem vai ganhar, quem não. O PDC (Partido Democrático Cristão era o partido do conhecido deputado Franco Montoro) estava ontem em 5° lugar. Ainda acho que a má campanha do JB para governador prejudicou sensivelmente o PDC.
Por falar em PDC, Paulo de Tarso renunciou. Por que, caramba! Porque ele não “agüentou a mão”? Estava fazendo muita coisa boa. Se os cristãos esmorecem – também essa bendita nação! ... – então não reclamem se o Jango coloca gente comunista. Foi, para mim, uma pequena falta de firmeza do Paulo. (acho que esse Paulo de Tarso Santos a que me referia é o mesmo que tem se candidatado pelo PSOL a alguns cargos públicos)
Gozado! Ontem, na reunião de equipe, Cardozo falou da Academia. Realmente, a gente encara um cargo na Academia como se fosse um peso. Com certa razão, às vezes. Desconfiança dos colegas, falta de apoio dos superiores. Comparei também com a minha situação de Coordenador da Equipe. É um peso. Um “cano”. Vamos ver como é que sairá a famosa eleição da Academia. Não sei qual a futura minha atitude no caso de ser eleito para os 6 mais ou mesmo para os 3 mais. O chato é que os outros votáveis estão também com cargos, etc. Estou em situação difícil. Tenho certa tendência a brigar com os superiores para certas coisas...
Dia 26 de outubro de 1963
Aula do Pe. Araújo.
Ontem fizemos reunião de Campinas. É desejo de todos - ? – pelo menos parece, pois ninguém está contra mesmo, que haja um encontro, contacto, com os (seminaristas) menores e os filósofos (de Campinas). Sempre achei isso bárbaro. Gosto desses tipos de encontros, matar saudades, etc. Não sei se por causa da minha dificuldade normal de conversar com os que estão junto comigo! Não sei. Pode ser uma influência de minha psique. Mas que é coisa boa, é. Isso sim.
Dia 28 de outubro de 1963
Ainda ressoa em mim o que Mons. Ulhoa falou de mim na reunião de Apostolado. Não gostei de ficar espalhando por aí que o próprio bispo (claro, D. Miele quando Reitor [de Aparecida]...) falou que sou super-especializado em cinema. Afinal de contas, não sei o que Mons. quer que eu faça para sair dessa “super-especialização”! Vou conversar com ele. Estudar estou estudando, e como nunca. Estou fichando a matéria de Dogma. Claro, estudando com calma, sem afobação. Que eu sei cinema demais é bobagem. Tenho somente 3 livros sobre a matéria, não tenho lido nenhum integralmente. Pode ser que no ano passado, quando ainda escrevia o “Cine-clubismo e Cine-forum” estivesse muito ocupado com cinema. Mas era por causa do dito cujo. Agora não. Não sei o que quer que eu faça. Procuro me atualizar quanto aos modos de apostolado, Ação Católica, MFC (Movimento Familiar Cristão), Legião (de Maria – acho), o que queira. Só que não estudei melhor por falta de chance. Não venha me dizer ele que não faço apostolado algum nas férias, semanas litúrgicas... claro, faço outras coisas ... Além do mais não exerci nunca apostolado propriamente cinematográfico ... É chato ficar falando essas coisas por aí. Vou falar com ele...
O Pe. Charbel está falando da Liturgia Sacrifical do AT. Diz que: “se o sacerdote pecar e fizer pecar todo o povo... oferecerá um novilho... “ Interessante! Mesmo no AT, do Deus Terrível, etc., havia perdão para os sacerdotes. Caramba, porque o Concílio não propugna o perdão dos padres apóstatas, caídos; estamos, ou não, no Testamento do Amor? Vamos esperar.
Eu ia escrever que estou estudando e com calma, a Teologia de Cristo para o “bacalhau” (bacharelado). Só agora é que estou assimilando melhor o Tratado da Redenção. Achava muito confuso. E não é tanto assim, embora seja um tanto. Falta estilo pedagógico, é muito repetido.
Dia 30 de outubro de 1963
Já fizemos o “bacalhau”. Fui bem. Não sei a nota. Respondi sobre o modo de participação dos mistérios na Redenção. Vamos ver. Agora, férias! Sou “Bacharel”. Bárbaro.
Estamos na aula do Chivinsky. Teria tanta coisa a escrever, dois assuntos interessantíssimos e drásticos. Prefiro me calar, por enquanto.
Dia 5 de novembro de 1963
Estou em ultra baixa. Mais violentamente, estou com o saco cheio.
Consegui um 10 nos exames de “bacalhau” e consegui não ser eleito para a Academia. Foi o que me alegrou nestes dias ruins. Também o sucesso com que realizamos o “Gabinete do Dr. Caligari” (consegui trazer e passar esse filme famoso, mudo, para os colegas)
Depois, tudo é kaos (uáu?!)
Dois eram os assuntos que eu escrevia acima. Um é o aviso do Mons. Ulhoa para as equipes, e o outro, qual era naquele dia? Por que o assunto mais palpitante só estourou naquele dia à noite. Qual seria? Ah, sim. Escrevi na quarta-feira. Então já estava em andamento.
Começou o início do bolo (= confusão) no aviso de Mons. Ulhoa. Queria ele que os dirigentes falassem às equipes sobre umas tantas coisas. Mais uma vez desafiou as equipes: “Vocês não se comprometeram a melhorar a comunidade?”, etc. etc. Veio falando de uma tal palestra do Sr. Cardeal para os seminaristas de Aparecida. Alguns quiseram retrucar aos desafios de Mons., mas ele não estava disposto a sentar conosco. Queria só nos despachar e aliviar a própria consciência. “Fichinha” (apelido de um colega que não sei identificar) cutucou: “Ajuda, aí”. Mas não ajudei. De nada ia adiantar. Ele não estava disposto mesmo. E assim acabou o aviso.
Viemos a saber dias depois que o Sr. Cardeal realmente falou coisas bravas lá na Filosofia. Falou 1 h e 15 minutos. Falou tudo, coisas básicas sobre o sacerdócio. Mas certas frases falou bravo. Inclusive que estamos todos no seminário por favor dele. Acho que não é verdade. As Dioceses nos pagam. E este seminário é Central. Não tenho culpa. O seminário é nosso. Em Aparecida chegaram a deixar a turma de São Paulo entrar e seguir somente “convidados” pelos outros. O diabo é se vierem com esse tal de compromisso, o que em nada vai mudar a crise, mas só aumentar.
Inclusive manjei, pelo que Mons. disse, que ele permaneceria o ano que vem, de qualquer jeito (sabemos que será como Reitor, mas isto vem adiante ...). Que suprema (in)felicidade!
Os dirigentes saíram dos avisos na mesma. No 2° ano, já não haveria reunião mesmo. Todo mundo viu o perigo do “assinado pelo Sr. Cardeal ...” E ninguém queria a Assembléia, que ele insistiu que se fizesse. “Admirabile dictu!” Já havia ele dito que não iria mais a Assembléias. Agora é nós que não queremos, por força das circunstâncias que estão absolutamente mais graves que antes. Nem há termo de comparação. É kaos mesmo. Mons. Ulhoa está absolutamente desacreditado pela turma. Mas isto vem mais adiante.
Dia 8 de novembro de 1963
Hoje é ontem, anteontem, etc. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça. É que o troço continua... é um nó só. Ontem queria escrever aqui. Mas não o fiz. Aliás, o retiro foi naquela base. Não assisti a palestra do Alberti, dormi desde 12,30 até as 15 hs. Também, estava com um dos ouvidos entupido. Depois o Dito me abriu o ouvido. O Scritsky acha que estou tomando nota. Ou pelo menos está fazendo piada.
 

Datilografado e anotado em 9 de agosto de 2012

DIÁRIO APARECIDA DO NORTE - 1960/61


2º ANO DE FILOSOFIA EM APARECIDA DO NORTE - 1960

 
Tudo passou, assim como tudo passa mesmo.

Já estou no dia 10/II/1960 – Quarta-feira
Último dia de retiro. Já se passaram as férias, já voltamos, os novos já chegaram. Já fizemos novos rumos para o ano, já matamos a saudade do basquete, já ...
Seria bom fazer um retrospecto das férias, já que não escrevemos diariamente. Férias boas. Bons passeios; no sítio, faiô... muita chuva. Araras, dia 20, bela cidade, ordenação dos padres Lanza, Longhi e França. Depois Indaiatuba, já conhecida por nós, 1ª missa do Pe. França. A Campinas não fui... intestinos... Monte Alegre (do Sul), ah! Monte Alegre... ; casa da Téia e do “Cunhado” (Osvaldo).
Muito xadrez (explicação: comprei um livro de xadrez e reproduzia, sozinho, os jogos famosos; em Amparo, as férias eram muito chatas pois tinha que usar batina o tempo todo, só ia até a Igreja e voltava, a todo pique... de batina era muito ruim você parar em frente a uma vitrine, por exemplo... parecia que você estava vigiado o tempo todo), muita música: Oh! Carol, Noite de meu bem, Quero beijar-te as mãos minha querida, Lacinhos cor de rosa, Cinzas do passado, E daí e daí, Se acaso você chegasse, Lua azul, Concerto n°1 de Tchaikowski (Ray Connif), Quero chorar, Ôclides, Me dá um dinheiro aí, Foi na bodega, Que é, Creia, Vagabundo, etc., muito rock-balada e balada (que beleza, hein!). [Velha caneta da Lourdes] (escrevi com caneta que minha irmã mais velha, Lourdes, a única das minhas 3 irmãs ainda viva, usava).
E os cinemas? Dez Mandamentos, Contanga (!), O velho e o mar, Matar para viver (Indaiá), Os heróis estão cansados, o Mago (Cantinflas), Brutos em luta, O terror do Himalaia, Paris Palace Hotel, 20 milhões de léguas da terra, Quando o sol se esconde, e, finalmente, como fecho de ouro, A ponte do Rio Kwai. Muitos filmes, muitos abacaxis, 2 ótimos, 3 mezo-a-mezo. O resto...
É, o Palmeiras ficou campeão mas ganhou 2 pontinhos perdidos na tabela contra o São Paulo: 2 x 0. Gols de Gérsio e Vitor... é o maior ...
Amparo. Jardim novo. Prédio do Hotel, parado. Saiu o Pe. Sebastião, entrou o Pe. Cardinalli, saiu este e veio o Pe. França. Afinal, Mons. Lisboa tem ou não muita influência junto a D. Paulo?
Apostolado? ... Nada mais que algumas reuniões. Monsenhor prometeu mais trabalho para outras férias. A gente sente mesmo satisfação (proveniente do orgulho?) ao falar coisas simples, em palavras simples, a gente simples, mas coisas divinas. Dar um pouco aos outros das nossas experiências.
Por falar em Monsenhor... Ah! Monsenhor, assim não! ...
Em Amparo o que não deu a falar a retirada do retrato do Ademar de Barros. Ele não tem mais vez, mas tirar o retrato... ?
Dia 22 de fevereiro de 1960 - segunda
Chegamos. Às 21:30. “Os senho-r-es estão um pouco at_r_azados”. (certamente imitando a fala do Pe. Abib que tinha um ‘erre’ gutural) Não faz mal. Tinha mais 3 companheiros: Campregher, Italiano e Wanderley.
Sacristão, hein? ... Gostei do cargo, deveras. Até agora não pus vinho na boca.
Os novos chegaram. Moreira, meu “pupilinho”. (= eu era o ‘anjo’ dele) 56 novos do 1° ano. Virão os 2 de Botucatu, que estavam em Viamão, para o 2° ano.
Veio depois o retiro. 4 dias. Fr. Godofredo, confessor. Simplicidade franciscana. Fiz confissão geral com Pe. Ludovico de Guará (aquele que nos vai dar a máquina, que ainda não veio) (?)
Dia 14 saiu o 1° PRISMA (mural sobre cinema, do grupo de cinema C.E.C). Apresentação. Hoje deveremos nos reunir para tratar assuntos referentes ao C.E.C. (Círculo de Estudo sobre Cinema)
Por falar em CEC, já assistimos um bom filme: “Sissi e seu Destino”. Diretor: Ernst Marichka. Sissi: Romy Schneider; sua mãe: Magda Schneider. Filme leve, pomposo, brilhante. Lição: creio ser a bondade, que é representada pela pessoa de Sissi. Atuação: esplêndida!
A casa vai do mesmo jeito. Só Pe. Expedito (novo Ministro da Disciplina, substituiu o Pe. Leocádio) (parece-me que melhorou) e Pe. Mosquini (professor de Economia Política, recém chegado de Roma). Esportes entre novos x velhos. Futebol: 6 x 6. Basquete: 1° jogo, 33 x 31; 2° jogo: 39 x 30. Vôlei ainda não houve.
O campeonato de basquete vai começar, meu time: Wanderley, Bento, Efori, Eu e Monteiro. Era para começar amanhã mas a chuva vai atrapalhar. O futebol vai começar; estou no time do Ildefonso.
Por falar em futebol, deverá sair dentro em breve a “Janela Esportiva”, com a minha sessão “Sabia que... “ (?)
Reunião da Diocese já saiu: 14 elementos; com a saída do Beltrame (e entrada do Mateus), foi eleito o Claret para coordenador. Mateus e Ming, a parte social.
Aulas, a semana inteira, sem nenhuma vaga. Que horror! ... Nós estamos com 33; o Fabiano virá mais tarde.
Pretendo pertencer a mais um círculo de estudos: JOC ou JEC? (Juventude Operária Católica e Juventude Agrária Católica)
Estou um pouco doente. Depois de umas dores nas regiões do apêndice, deu-me íngua e aquela coisa na canela. Se continuar assim, terei de ir ao médico, e, por conseguinte... mais dinheiro.
A carta que escrevi para casa não foi respondida. É capaz que na próxima eu peça notícias e dinheiro. É o Thonnard... ! (autor de Compêndio de História da Filosofia; acho que precisava de dinheiro para comprar esse livro)
Fiquei um pouco na baixa (ficar na baixa – expressão corriqueira na época) esses dias. Chuva... chuva... e mais chuva ...
Escrevi isso tudo porque resolvi a (re)começar mês – s – smo. Até agora foi quase tudo em brancas nuvens... Parece-me que vou ter um pouco de trabalho. Saí da Schola (Cantorum)... Quase que ia me esquecendo: li já 2 livros: “25ª hora” – Espetacular! Pessimismo até ao último grau. Condena a tecnocracia, que vê no homem como uma peça de máquina e não como indivíduo humano. “Nem Cristo salvaria a humanidade”, pois os homens materializados como estão não têm espírito, não pensam, movem-se automaticamente. A Rússia não é nada mais do que a prática integral das teorias norte-americanas ... É exagerado mas tem umas boas carradas de razão.
O outro livro: “A Cidadela” – Cronin; leve e bonito. Crítica ao charlatanismo e cobiça dos médicos dando remédios falsos a quem não precisa, etc. etc.... Ficando rico, fica insensibilizado, autômato, na “high-society”. Assim é que dá gosto assistir aula. (= lendo outros livros...)
Hoje vamos ter reunião do CEC.  

24 de fevereiro de 1960
Ontem, nada escrevi.
Parou um pouco a chuva ontem mas começou de novo um pouco antes das 3 horas. Mesmo assim houve um jogo estréia do campeonato com a presença do Sr. Sólon Pereira. (Prefeito eleito de Aparecida do Norte para o período 1960 a 1963, não me lembro se ele foi o preferido dos seminaristas) Hoje também parou um pouco. Quando saímos no recreio, para começar o 1° jogo do campeonato... chuva... Bilhar...
Por falar em Bilhar, ontem era para o padre comprar o giz, mas... será?
Com umas aulinhas agradáveis, o tempo passa mais depressa.
Ontem apareceu a “Janela”... hoje o “Democrata” (jornais murais)
Baixa... baixa... e mais baixa!!!
Acabei “As Chaves do Reino” (romance de A. J. Cronin, virou filme com Gregory Peck no papel do padre). É o fim ... Mensagem: não é só a Igreja Católica, ou melhor, para entrar no céu basta amor a Deus e ao próximo. Tolerância. É a vida de um padre, com muitas dificuldades, desde criança. Não é impossível de acontecer. Nem sei me expressar direito. Grandes ensinamentos se podem auferir com sua leitura.
25 de fevereiro de 1960
Poesia ultrarealista futurística:
Chuva... chuva... chuva...
Baixa... baixa... baixa...
É... desde sexta. São Pedro está com “ele” (desconfiômetro) desligado, é claro!
Joguei umas 5 partidas de xadrez e perdi todas para o (Celso) Ming (hoje editor de Economia no Estadão, da turma de 1953). Preciso treinar para o campeonato. Houve saída... mas... de que jeito?! O pior foi que, enquanto uns saíram, outros foram para o estudo.
O IKE (presidente norte-americano, Eisenhower) chegou a São Paulo. Nem assim fomos ver pela televisão. Visitou Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. São Paulo tem mesmo prestígio.
26 de fevereiro de 1960
Chuva. À tarde descobriu-se uma nesga do céu, possibilitando-me a ver o sol. Houve uma peladinha. Não joguei.
Mas esse Machado é intragável mesmo... (falando mal de Machado de Assis)
O Pe. Expedito me disse: você precisa não... dos... comunidade (?!). Muito obrigado. Franqueza, acima de tudo, é o que aprecio.
IKE foi embora todo contente. Pena que tenha havido aquele desastre com a banda dos Fuzileiros Navais norte-americanos. Chocaram-se no ar com um avião da Real. Acho que todos estão mortos.
Comecei a ler “Senhora”. (José de) Alencar é sempre Alencar; incomparável... no seu gênero, é claro! ...
27 de fevereiro de 1960
Parou um pouco a chuva. Quando, porém, descemos para o café das 3 horas, começou a chover. Nada ainda de campeonato de basquete. Só mesmo peladinha. Mas, quanto tombo, hein?! É para tirar um pouco a monotonia da vida.
As aulas (Deus me perdoe) estavam... nem falo; e que fome, depois...
Agora mesmo arranjei a fotografia do nosso time de basquete no 2° jogo contra os novos: 39 x 30.
29 de fevereiro de 1960
Ontem, dia completamente insípido...
Cedo tentamos jogar campeonato, a instâncias (uau!) do Pontes. Chuva, campo molhado, bola lisa, 2 substituições (uma das quais despropositada), falta de 1 juiz, etc., tudo isso fez-me protestar junto ao Pontes. Perdemos: 19 x 15. Ele disse que ia haver não sei o que, para resolvermos (não sei se saiu...); até agora, nada. Parece-me que vai ser invalidado o jogo.
De resto, nada. Ah, agora me lembra. O Lot (Marechal Henrique Teixeira Lott, adversário do Jânio Quadros na disputa para Presidência da República) veio a Aparecida; só não veio ao seminário porque estava atrasado e tinha compromisso. Que pena...! (?) Não vou votar nele mas queria conhecê-lo, ao menos.
Hoje, como soe (acontecer), chuva... Nada de jogos. Adoração (é carnaval!) (= atividade religiosa durante o carnaval, adoração ao SS Sacramento), como ontem. Outra coisa... Ontem, Pe. Glauco tomou posse de sua paróquia de Roseira. Parabéns.
Canôas, excelente amigo, enviou-me uma missiva. Preciso responder-lhe
Jesus Urteaga (padre da Opus Dei; tem site com frases dele) é grande mesmo: o desalento da alma é pior que o pecado mortal. Devemos nos libertar dos sentimentalismos religiosos. Devemos pratica (devo!...) piedade viril, se não, não vai mês – s – s – smo. !!! (piedade viril? Que catzo é esse?)
4 de março de 1960
Baixa tremenda. Não sei porque... Foi tudo bem, hoje. A prova de Cosmologia, barbada. O resto, bem. Não sei porque!...
Nesses dias atrás quase nada de mais.
Ontem, isto é, terça-feira, esteve aqui o juiz do caso Aída Cury. Sr. Valadão. Explicou-nos tudo, tin-tin por tin-tin. (Aída Jacob Cury foi jogada de cima de um prédio em Copacabana em 1958. Não sei exatamente o porquê dessa palestra, talvez por ter um irmão sacerdote, Maurício Cury).
Ontem, Pe. Expedito nos falou... exame de consciência do mês sobre disciplina.
Terça-feira houve umas festinhas aqui de Carnaval. Excelente. (?!?)
E a chuva parou, enfim. Arre!
22 de abril de 1960
Meu diário, como vai? Há quanto tempo não te vejo? Bem, desejo conversar contigo mais frequentemente.
Passou o mês de março com a festa do terceiro ano, com a bonita festa de S. José: Missa cantada, Vésperas cantadas, cinema: “Volta ao Mundo em 80 Dias”. Futebol contra os de Guará, ou melhor, contra o La Salle (não o Colégio La Salle).
Passou já quase todo mês de abril, com o meu aniversário, com o retiro da Semana Santa (que belo retiro...!), a Paixão do Senhor e a nossa Páscoa da Redenção – nossa sim porque foi para nós... Passaram as canseiras de sacristão.
Passou ontem o acontecimento esperado tanto: inauguração de Brasília; Brasil, acorde! Mostre toda sua pujança. Agora que temos nova capital, novos brasileiros deviam surgir... chega de politicalha, chega de “marmelada” ... brasileiros patriotas, homens com virtudes humanas completas (divinizadas pela graça)! (?!?)
24 de abril de 1960
Festa de S. Benedito. Muito rojão, muito preto (politicamente incorreto!). Dia comum. Veio a turma da Paróquia de N. S. de Fátima. Perderam os jogos. Turma animada.
Veio o Célio aqui na carteira: trabalho de Economia Política. Mas, e o tempo? Na semana santa não deu “mesmo”. Antes não tive tempo? Não lembro, mas acho que não houve. De tudo isso (não fiz até agora o trabalho) tiro a conclusão que se deve fazer o quanto antes qualquer tarefa ou obrigação, ta?
Ontem o Pe. Abib deu sérios avisos: chegar atrasados em passeio – graças a Deus não fui eu; ficar sentado nos jardins frequentados (?!?), etc. – nem; falou boas verdades, foi objetivo, assim é que eu gosto! ... (hum!)
Cardeal Cerejeira (Patriarca de Lisboa), de volta de Brasília, esteve aqui; que simpatia e que simplicidade!... espetáculo!... Vi também a Cruz de Cabral; gravada está em minha memória (uai, onde estará? Memória deletada?). Faço votos que o Brasil seja descoberto de novo...! (?!)
Carta de casa. Todos bem. Nada de aposentadoria (3 meses), nem emprego (concurso) para o Clésio. (mais tarde ele passou num concurso para Inspetor de Alunos)
25 de abril de 1960
Arre! Fui falar com o Pe. Espiritual. Muito bom padre. Pontos positivos. Semana de Aperfeiçoamento: orações nas aulas, no refeitório (grande idéia) e combater o orgulho opondo coisas contra o mesmo... Graças a Deus...
Hoje encheu a horta de gente. Houve comício ontem, com sorteios de $50,00 por 15 dias. Agora sim, vai gente. (este trecho parece samba do criolo doido, mistura hora com comício!)
25 de abril de 1960
Nem hoje fui ao Clube Agrícola. Vagabundice. Se amanhã nada houver em contrário, irei...
Em ver de ir, fiquei batendo bola para dar “cum quibus” para o banho frio. Nem fui tocar sanfona, que (ela) até já me esqueceu. (ameacei aprender sanfona com um cearense que vivia tocando uma canção assim: “Quando a gia canta, na beira da lagoa, é sinal de chuva, aí meu Deus que coisa boa, foi, foi, foi, não foi ... - de Zé Gonzaga – internet. Um dia roubaram a sanfona do colega e o Ito, um gaiato que desenhava bem, fez um cartaz com um cara correndo com a sanfona e com o título ‘A Fuga do Baixo”)
Por falar em frio, parece que este ano teremos mais frio que o ano passado.
O Pe. Claudino, na aula, falou de um tal método novo que ele iria adotar no 2° semestre. Que será, será!...
29 de abril de 1960
Quarta-feira houve aquela bacana aula de arte-sacra em que nós vimos Brasília. Grande! (?)
Afinal, ontem tivemos o filme marcado para quarta: “Sementes de Felicidade”, muito bonito. Colorido. Belíssimas músicas. A gente sai desses filmes com uma boa psique, na alta. Pena que estivesse um tanto cortado. E a “tremerama”. Foi bobagem termos comprado – ou ganhamos? – essa máquina.
Começou novamente o campeonato com um empate nosso: 2 x 2.
Hoje, dia normal. Bem aproveitado. Quase quebrei a caneta – esta que está escrevendo; deixei-a cair no chão, sem tampa. Entortou um pouquinho mas dá para escrever. Inda bem. Ficou boa. No recreio joguei basquete, pulei altura, trabalhei no campo e assisti jogo. E aquele trabalho sobre as Mães. Será que sai? Videbimus! Duvido – o – o!
30 de abril de 1960
Mais um mês. Assim o tempo passa, E eu? “In ipsa” (=na mesma)
Meu diário, digo-o bem baixinho a ti – e bem alto ao Senhor – não é bom começar uma vida melhor? Em muitos aspectos? Mais generosidade!... Valor divino do humano.
Parece que o Pe. Expedido vai falar daqui a pouco.
Choveu hoje. Nada fiz no recreio. E a sanfona? Esqueci-me dela? “Tadinha!”...
Ontem tivemos a reunião da JEC (Juventude Estudantil Católica). Creio que assim não dá. Devemos fazer as reuniões com menos gente – divisão da turma – e cada dia, “fora da sala”, sem protocolo, cada um exporia. No fim do mês...
E a turma lá em São Paulo? Senhor, não os deixeis em desunião... Mas, afinal, resolvem ou não?
4 de maio de 1960
Meu diário, aqui estou novamente. Gosto de confiar-te minhas cogitações...
Hoje fizemos a reunião (dos seminaristas) de Campinas. Reunião muito boa, ótima mesmo para mim. Ventilamos vários assuntos. O Mateus falou sobre o ideal... Espetacular. (se não me engano, esse colega Mateus teve sérios problemas com os gânglios linfáticos e veio a falecer) Depois falamos sobre reunião de férias (deixar que a turma de S. Paulo resolva). Começar as especializações – catequese, ação católica, etc.; Padres aniversariantes (lista); as reuniões devem ser bem divididas, etc. Mas o que ficou mais, mesmo, foi o negócio do ideal. A comunidade vai bem. Que será? Dever-se-ia estudar na próxima reunião ... A principal coisa messsmo acho que é o ideal; “os seminaristas não vibram com o ideal” (Pe. Expedito). É a malfadada burguesia, pacatez, o “deixar a coisa correr”. É preciso acabar com isso, de todo jeito, viu Sr. Daólio. (obrigado, Senhor ! pelo aviso). É isso o que te queria dizer, meu diário, e o que já disse para o nosso Cristo?
Daqui a pouco começam os estudos sobre Liturgia e Gregoriano. Deverei tirar o máximo proveito desse estudo.
No dia em que estiveres triste, seu Daólio, volta o ao dia 4 de maio... Parece que foi neste dia o meu batismo. Será que agora fui batizado com o ideal? (uau!)
9 de maio de 1960
Acabou-se o congresso. Amanhã = aulas.
Houve 3 dias sobre Liturgia e Canto Gregoriano. Por Dom Enoux, Diretor do Instituto Pio X. A turma não gostou muito, nem eu. Duas coisas proveitosas: o Canto Gregoriano e aquela explicação simples da missa (“coram populo”, os 3 dias). (= voltada para o povo)
Ontem foi o dia das Mães, de Mamãe. Escrevi-lhe uma cartinha. É difícil se expressar em palavras mas... “(verba volant) scripta manent” ... (as palavras voam, o que é escrito permanece) simplicidade, sinceridade. Simplicidade = característica de Deus.
Ontem houve ainda “Mortalmente Perigosa”. Policial. “Bacaninho”. Algumas cenas demoradas, inúteis. Apresenta o mal mas combate-o com a morte de Bart e Laurie. Mostra também como de uma brincadeira inocente a princípio originou-se toda a complicação da sua vida (influência da mulher...)
14 de junho de 1960
Outra vez me encontro contigo... Estranhas a pena? É a caneta ganha nas Olimpíadas ... é mesmo, aconteceu tanta coisa nesse ínterim. Agora já estamos às portas do exame. Cavamos mais dois feriados para estudar: sexta e sábado; pudera, temos mais dois monsenhores: Mons. Alberto Abib Andery e Mons. Expedito Marcondes.
Me perguntas o que houve nesse ínterim? O que mais gostei?
O agradecimento de minha mãe à carta que eu lhe mandei. Obrigado pelo agradecimento, mamãe.
A direção espiritual. Boa, mesmo. Saí de lá com coisas muito positivas. Fiz a direção, mesmo.
O (Newton Aquiles) Von Zuben foi embora. Vai para Louvain. Sorte dele. Ah, se fosse eu... “Fiat voluntas tua” (= seja feita a sua vontade). Ele merece mesmo que eu, em Filosofia... sou + ou menos um ‘cano’. (conforme o Mons. Luís de Abreu, eu fui o indicado para ir a Louvaine, porém, como o von Zubem tinha um tio padre que financiava a viagem, eu fiquei e ele se foi ... como minha vida teria sido tão diferente se o acaso não tivesse interferido ... digamos)
Nomeação do Con. Melilo (antigo Reitor do SIC, antes do Mons. Bruno) para Bispo de Piracicaba. Parabéns, Cônego Melilo. Bom pastoreio.
Bem, meu diário, por hoje é só. Tudo que eu te digo, digo-LHE também ali em baixo, tá? O que? Ah, já sei o que me estás dizendo. É, é verdade. É preciso fazer as coisas quanto antes; não deixes para amanhã o que podes fazer hoje...
Obrigado, Pe. Claudino, pelos elogios feitos ao meu modesto trabalho ... “Descartes e o Existencialismo” (“Publique no jornal da sua terra”, (disse ele)).
3 de agosto de 1960
Como vai, “my diary”? Eu estou bem. Desculpe a ausência. É, te admiras? ... Nas férias é duro mesmo... O que aconteceu nessas férias?
Assisti à ordenação (sagração) de D. Melilo.
Fui a Monte Alegre. Lá li os seguintes livros: “Sob a Luz das Estrelas” (Cronin) e “O Segredo de Florence” (Aventuras de Arsène Lupin).
Fui à festa de D. Paulo. Quantos bispos...! E que almoço! ... Também fui copeiro, ou melhor, garçom.
Fui a Souzas. O Pe. Constantino é um tanto tímido, receoso. A paróquia também é um tanto fria, hein! Fui lá a Joaquim Egídio. Serviu pelo menos como experiência. Em Itapira estava boa a coisa, messsmo.
Escrevi para o Ildefonso e ele me respondeu. Muito obrigado! ...
Bem, eis-me aqui de novo. Com novo ânimo. Agora o negócio precisa ir para a frente, ELE precisa aguentar lá que o papai aqui não é de nada. Bem, faremos o possível. Em todos os setores, ataque em massa. Vamos ver se não fico só em fogo de palha. Milagre não pode haver mas deve haver progresso, pois ficar no lugar é regredir. Precisa-se levar como no futebol de hoje. Todos cooperando para um único fim...
Está estranhando a luz? É do novo quebra-luz. Estou no estudo do meio. É melhor, não?
8 de agosto de 1960
Véspera de um feriado. Fui trabalhar na horta. É um triste começo, com 5 bolhas... Farei esforço para ir mais vezes ajudar lá um pouco, o mínimo que seja.
O exame “De Universa” vem mesmo. Este ano mesmo. É bom ir recordando o defunto Morandini e o Dezza (autores dos livros didáticos de filosofia).
Já assistimos a um filme: “O Tesouro do Barba Rubra”. Bem sofrível.
Já li inteiro o livro “Os Santos vão para o Inferno”. Muito bom. Realista, do tipo do 25ª hora. É o problema dos padres operários. Que cristianismo vivido!...
Será que o CEC vai para a frente, ou não?...
5 de novembro de 1960
Acabei aquela vez com uma pergunta sobre o CEC. Agora respondo: Foi, foi mesmo. Acabamos o fichário (ou quase), fizemos reuniões regulares, o “PRISMA” saiu regularmente, escrito, de 15 em 15 dias. Além do “Tesouro do Barba Rubra” tivemos: “Periscópio à Vista” (+ ou -), “Orfeu” (Jean Cocteau, Jean Marais), “O Homem da Cruz” (abacaxi de Roberto Rosselini), “Aquele que Deve Morrer” (com Jean Servais, etc.), sem dúvida o melhor, “Rota para o Inferno, “Os Últimos Dias de Pompéia” (Steve Reaves, Christine Kauffman, Barbara Carrol) e “Canção do Sul” (Walt Disney).
Pe. Vanin esteve ontem aqui com os sextanistas (vieram anteontem). Disse-nos umas boas palavras (ótimas) sobre a reunião de férias e sobre a nossa situação aqui, que está ainda “naquela base”. A turma não está revoltada exteriormente (medo ou...?) mas interiormente. Não se pode viver uma vida assim. Outra oportunidade direi aqui meus pensamentos.
Olimpíadas ontem. Perdemos: 5 – 5 – 5. Que azar, mais do que pena.
Além de “Santos Vão para o Inferno” li ainda um da Biblioteca de Seleções (História do FBI; Futuro para Três), “Cela da Morte”, “Dom Casmurro”, “Almas em Conflito” (Jardineiro Espanhol) de Cronin, e agora estou lendo “Dr. Jivago”. Li também “Pajuçara”, de Oliveiros Litrento.
Eleições do Grêmio; eu subi como Vice-Presidente. Mais dor de cabeça mas maior dedicação aos outros; portanto, mais alegria. Saiu briga como no ano passado.
Hoje, dia de preparação, vai haver estudo à noite, “pero com mucha dificuldad”. Porém, vamos ler umas palavras de Pasternac.


3º ANO DE FILOSOFIA EM APARECIDA DO NORTE - 1961



12 de abril de 1961
São 17:45.
Ora, para que deixar para outra vez? Já que peguei no caderno para tirar umas folhas, aproveito para traçar linhas.
Agora não está mais “naquela base”.
O seminário subiu espetacularmente de produção. Pe. Miele, nosso novo espetacular (messsmo!) Reitor deu formidável impulso. Reina calma no ambiente, confiança. “Bandeira branca”, como diria o Sebastião.
Liturgia, Diretórios, tudo são melhoramentos (e o colchão de mola?!) (até então, pelo visto, eram colchões de crina)
Mais uma vez confirmou-se minha tese: com jovens, moços, para fazer alguma coisa precisa antes cativá-los, obter-lhes a confiança, o coração, se não... águas abaixo.
Não é por isso que está mais fácil, não! A vida está apertadíssima. Hoje mesmo eu entreguei um trabalho de Ética com o qual eu dispendi uns 6 dias, e olha lá! ... Os estudos subiram de tempo e de rendimento, com provinhas mensais. Recreio diminuído.
Mas está ótimo. O que importa é o ambiente, que ajuda ou prejudica a formação.
O CEC vai indo, com 13 elementos, 10 novos (não novatos). Estudamos o curso do ACB. (?) Planos para o futuro: impressos, conferências sobre cinema, etc., etc.
Filmes? “A Verdade não tem Fronteiras”, “A Fera de Budapeste” (bom) e “O Paraíso Roubado” (Ernst Marichka, com Anie Rosas, Hans Holt), “Guerra e Paz” (King Vidor, com Audrey Hepburn, Henry Fonda, Mel Ferrer, John Mills, May Britt, Anita Ekberg, etc.) (nesse filme eu vi a cena mais bonita de valsa do cinema... na minha pobre opinião)


Datilografado e anotado em 9 de agosto de 2012.